“Doces”, texto e receitas do livro “Paixão emagrece, amor engorda”, de Sonia Hirsch

Acabo de fazer um post sobre um doce sem açúcar, e por conta dele me lembrei deste texto, gosto muito. Conheci esta autora através da minha amiga querida Lilian Simões, que quando soube que eu estava grávida, naquela época, da Angelina, me presenteou com um livro maravilhoso da Sônia sobre alimentação Infantil (“Mamãe eu Quero +”), agora sempre que vejo o nome desta autora, me interesso em ler as matérias.

“DOCES

Acordo com vontade do simples e do fácil, consulto o I Ching: “Os fenômenos são incontáveis e diferentes uns dos outros, mas os princípios que os regem são os mesmos. Conhecendo-os, descobrimos o simples por trás do complexo, o que nos leva também ao fácil. O caminho do fácil é duradouro e espontâneo, pois não exige esforço. Fluindo de acordo com as circunstâncias evitamos o atrito, escapamos do stress. Assim é a água descendo a montanha: não recua nem insiste – mergulha, desvia, contorna, adapta-se sem resistência e chega, sempre, onde tem que chegar.”

Na cozinha bebo dois copos de água fresca e vejo a penca de bananas do sítio, pra lá de maduras, a casca ficando preta. Simples e fácil: descascar, cortar as pontas e colocar sem mais cuidados na panela de pedra com uma pitada de sal. Tampar e acender um fogo bem baixo, para que o calor aos poucos vá fazendo as bananas suarem. Suarem tanto que o suor vira calda, o esqueleto da banana aparece, a calda concentrada se reincorpora em forma de banana; e quando o cheiro estiver escandalosamente doce, o doce está pronto.

A vizinha não acredita que não coloquei açúcar. Questão cultural: o Brasil colônia cresceu em cima dos engenhos de cana, e a gulodice criou uma receita padrão onde se põe sempre metade açúcar, metade fruta. Para quê? Para enjoar, decerto. Porque precisar, não precisa. Uns cravinhos, talvez um pau de canela, tudo bem. Mas para puxar o sabor, a pitada de sal já resolve. Sutil assim, realçando o gosto. Feito um vaso de flores no canto certo para atrair e irradiar bons fluidos. Feito a felicidade, que independe dos milhões que você tem no banco, ou não tem.

Com maçãs fica um doce fino, delicado, em pedaços ou purê. O trabalho é só descascar e tirar o miolo, depois colocar na panela de pressão com um dedo de água no fundo, mais a famosa pitadinha de sal. E cravo e canela, se quiser. Assim que a panela chiar o fogo deve ser reduzido ao mínimo, quase apagando, e o fenômeno se repete: a maçã vai suar, virar calda, reinventar-se maçã, ficar muito doce. Outro jeito bom é assar maçãs inteiras no forno, dentro de um pirex tampado, para servir quentes numa noite de frio. Com uma caldinha de chocolate meio-amargo, talvez, e umas amêndoas…

Qualquer fruta obedece à ordem e dá essa boa compota: basta estar bem madura, o que significa que a frutose está no seu ponto máximo. Frutose é o açúcar da fruta. Dentro dela, faz bem; mas na forma sintética e concentrada do adoçante artificial, aumenta a produção de gordura pelo fígado e o médico vai dizer: Triglicerídeos altos! Dieta já!
Dieta já? Então, nada melhor que a fruta cozida para quem quiser comer doce sem engordar. Abacaxi, caqui, mamão, outro dia experimentei um doce assim de figo. De comer de joelhos, gemendo. Minha prima Marita explicou a receita: primeiro lavar bem os figos maduros, escovar bastante para tirar todo aquele veneninho que gruda na casca – o que praticamente tira a casca. Depois colocar todos bem apertadinhos numa panela grossa, de cabinho para cima, no fogo mais baixo possível. E deixar. Só pingar água se sentir que estão pegando no fundo. Mas como podem ficar tão deliciosos?

Volto ao I Ching: “Aquilo que é fácil, é fácil de conhecer. Aquilo que é simples, é simples de seguir. Através do fácil e do simples pode-se apreender as leis do mundo inteiro. Na compreensão das leis do mundo inteiro está a perfeição.”
Agora são várias compotas na geladeira. Não levando açúcar, conservam-se bem por uma semana ou pouco mais. Melhor fazer logo um bolo molhado.

Assim: tostar levemente um copo de arroz integral na frigideira, bater no liquidificador aos poucos, peneirar para obter uma farinha fina, bater de novo o que sobrou até acabar. Colocar uma ou mais compotas de frutas numa vasilha média de louça refratária ou pirex, com bastante calda. Temperar a gosto com especiarias como gengibre, canela, cravo, cardamomo, noz-moscada, raspa de limão, pedacinhos de ameixa seca, tâmaras ou passas. Misturar a farinha. Deixar descansando uma hora ou mais, até a farinha inchar. Se a mistura ainda estiver aguada, colocar mais farinha. Depois é só cobrir com folha de alumínio e levar ao forno médio durante uma hora, para secar.”

(do livro “Paixão emagrece, amor engorda”)

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